Minhas Impressões

Comecei meu tratamento dia 07 de abril no Hospital Moinhos de Vento Engraçado o nome desse hospital. Será que ao nominá-lo houve referência aos moinhos de vento do Livro Dom Quixote de Cervantes? Pensando bem desde que iniciei a batalha diária no Moinhos de Vento, tento vencer o medo e a solidão da dor. Dor ao sentir a finitude da vida. Ela passa por mim na sala de espera. Fico observando as pessoas, sua magreza, a palidez. Antes de ir aplico no rosto bastante blush para parecer saudável e corada. Engraçado a radioterapia não é um gigante a ser vencido, são apenas moinhos. Mas a mente se aprofunda “no mundo irreal”. Encontro diariamente as mesmas pessoas na sala de espera. Formamos uma “confraria de pessoas cancerígenas” umas que já eliminaram e o tratamento é para prevenir, outras que estão tentando eliminar o câncer após a quimioterapia: É um desfile de mulheres com perucas , e homens arcados e arrastando as pernas. Mas apesar das histórias doentes de cada um, há no ar uma catarse coletiva onde se purifica a alma e o corpo, através de descarga emocional. Cada um conta ao outro, mesmo sem se dar conta, o seu drama e falam... falam e contam seu calvário até chegar ao tratamento atual. Que necessidade é esta? Será que querem que quem as escuta sinta pena, se compadeça! Não quero que ninguém sinta pena de mim. Só eu mesma. Hoje foi a 6ª sessão de radioterapia. A sessão começa com a enfermeira te chamando alto, pelo nome completo. Entra-se no vestiário, tira-se a roupa, só a parte de cima, coloca-se o uniforme. Estou pronta! Aí ela me conduz para a sala da máquina – ACELERADOR LINEAR – que nome sofisticado para emitir raios laser, ferir a tua pele, mas claro, te tratar, e Deus queira, eliminar Células Cancerígenas. Sabe aquele filme com Tom Crusier onde ele invade uma sala cheia de raios laser e que não pode ser trespassados por ele, porque dispara o alarme. É assim que me sinto.

Estou hoje na 10ª sessão e a novidade foi a troca de turno. A partir de hoje começo o tratamento de manhã, às 10 horas e dez minutos. Abandono a confraria da tarde para aderir a turma da manhã. Sinto-me como uma colegial que troca de turma. Troquei também de técnicos que aplicam a rádio terapia. Sinto falta da confiança conquistada pela técnica Vânia. Era olhar para ela e ver calma, simpatia e confiança revelados através do sorriso , da voz, da expressão facial. Vou tentar obter destes dois que me atenderam hoje a mesma confiança: Kátia e Marcos. Encontrei-me com o pessoal de Caxias. Volto para Caxias com eles amanhã de Van.

Faço parte da turma de Caxias que vem de Van. É uma turma alto astral. Durante o percurso é divertido. Além de contarmos as histórias de nossas vidas, também contam piadas. Fundamos a CONFRARIA DOS IRRADIADOS. Vamos nos reunir de vez em quando para jantar e atualizarmos nossas mazelas.
Faltam, a partir de hoje ( 17/05) 5 sessões e volto definitivamente para retomar a minha vida. Sei que não será mais a mesma. Descobri um mundo que eu não fazia parte, porém ele existia. A minha única preocupação é o câncer voltar, porque descobri também que é bem comum. O meu médico aqui de Porto Alegre me disse que tenho 95% de chance de estar curada. Não serei da turma dos 5%, mas se for volto e faço tratamento de novo. O que me conforta e me sinto uma previlegiada é ter uma família que me ama e me apóia. VOCÊS ME FORTALECEM!!!